Muitas pessoas já viram, na página Aquarismo Alagoano, o vídeo de um aquarista alimentando um animal que flutuava na água. Muitos perguntam: “Afinal, que animal é este?”. Ele apresenta uma concha com formato parecido com a de um caracol de jardim, porém tem tentáculos, como um polvo, embora muito mais finos e numerosos. E então?
Imagem de opencage/wikipedia
O animal que aparece no vídeo é o náutilo. O náutilo é um molusco, como os caracóis e os mexilhões, sendo um parente próximo dos polvos, das lulas e das sibas, compondo um grande grupo chamado Cephalopoda. “Mas polvos e lulas não têm concha!”, alguém poderia pensar. Na verdade, no grupo dos polvos, lulas e sibas, a concha se tornou interna, estando ausente apenas em alguns grupos de espécies. É por isso que não vemos esses animais com suas conchas. Assim como nossos ossos, elas estão escondidas dentro do corpo do animal. Para quem já teve aves em casa, a concha interna da siba é cortada e vendida em pequenos blocos utilizados para o desgaste do bico do animal, o famoso “osso de siba” – atualmente, o mais utilizado para aves é o sintético, não mais o retirado da siba.
Mas e o náutilo? Há muitos milhões de anos, quando os cefalópodes estavam surgindo no oceano, eles carregavam consigo conchas parecidas com a dos náutilos. Hoje, eles são um dos grupos com maior e melhor registro fossilífero. A maioria das espécies com concha externa foi extinta, restando hoje apenas cinco ou seis espécies, todas presentes no oceano Pacífico (por isso nunca encontramos estes animais ao mergulhar no Brasil).
O náutilo tem várias características que os tornam únicos entre os cefalópodes viventes: Possuem conchas externas, apresentam um número superior de tentáculos aos outros cefalópodes, além de levarem uma vida bem diferenciada. Enquanto polvos vivem principalmente no fundo do mar e lulas vivem nadando ativamente, o náutilo vive flutuando. Ele é um predador ativo que caça principalmente outros invertebrados e pequenos peixes. Ele vive em áreas costeiras e em recifes de coral, mas também pode ser visto em aquários, como o National Aquarium e o Aquarium of the Pacific, ambos nos Estados Unidos.
William Cho/Flickr
A concha deste animal é muito cobiçada pela sua beleza e pela possibilidade de seu uso para a confecção de joias, por exemplo. Por esse motivo, o valor da venda da concha costuma ser muito alto, tornando lucrativa a sua pesca. Em algumas áreas das Filipinas, onde a pesca ocorre, a população do náutilo já foi praticamente extinta. Recentemente o Dr. Peter Ward, famoso paleontólogo americano, iniciou um esforço pela regulamentação da pesca nos Estados Unidos, mas medidas mais diretas pela conservação do náutilo na natureza ainda estão por ser tomadas.
Sua concha, diferentemente das conchas de outros moluscos, é formada por várias câmaras, enquanto o corpo do animal ocupa apenas a câmara mais externa. Em todas as outras câmaras, há apenas a passagem de um cordão de tecido vivo, chamado sifúnculo. Esse cordão é responsável por controlar a quantidade de gases e líquidos no interior dessas câmaras, o que permite ao náutilo flutuar como um submarino. Por exemplo, o submarino fictício Náutilus, do livro Vinte Mil Léguas Submarinas, e o submarino da vida real Nautilus, projetado por Robert Fulton em 1800 e considerado o primeiro submarino prático da história, foram inspirados em nosso molusco em questão.
Foto de Chris/wikipedia
As câmaras da concha do náutilo: essa imagem mostra uma concha de náutilo cortada ao meio, possibilitando a visualização das pequenas câmaras internas, utilizadas para a flutuação, e da câmara maior e mais externa, onde fica o corpo do animal. Conforme ele cresce, seu corpo vai avançando e novas câmaras vão sendo formadas no espaço que fica para trás. Foto retirada da Wikipédia.
– Shelmet, o Pokémon Náutilo:
Shelmet é um Pokémon descrito como sendo algo parecido com um bivalve ou um caracol, porém na verdade Shelmet é mais parecido com o náutilo. A típica forma espiralada e lisa da concha, com uma placa que fecha a concha protegendo o animal, além da presença de olhos grandes e bem desenvolvidos comprovam esta ideia. Além disso, a orientação do animal em relação à concha também é típica de um náutilo.
A diferença mais marcante entre o Shelmet e um náutilo típico é a ausência dos múltiplos tentáculos que o náutilo tem ao redor da boca. Sua evolução, Accelgor, retém o formato da concha em sua cabeça, porém já não tem mais as típicas características de um molusco.
[box type=”success” ]Artigo enviado por Diniz Viegas, mestre em zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro, com especialidade em moluscos marinhos. Faça como ele e colabore conosco. Sintam-se a vontade para corrigir, complementar e compartilhar a sua experiência conosco. Utilize o campo de comentários para tirar dúvidas e interagir sobre esse assunto. [/box]