Rodrigo Paes é um aquapaisagista veterano, conseguiu colocações memoráveis entre os grandes.
No dia 19 de novembro, os aquaristas Alagoanos ficaram na torcida pelo aquapaisagista Rodrigo Paes, pois ele era o único conterrâneo participante do Concurso Brasileiro de Aquapaisagismo em 2011. Obtendo a 7º colocação, ele demonstrou que Alagoas tem capacidade suficiente para bons aquapaisagistas.
Se você chegou a pensar que o Rodrigo teve sorte de principiante, está enganado. O alagoano já participou do CBAP em 2009, obtendo a 8ª colocação no ranking da categoria plantados. Isso se tornou uma progressão e esperamos que ele participe anualmente do concurso e conquiste seus objetivos com sabedoria e dedicação.
Nessa entrevista vamos mergulhar a fundo nesse aquário com informações, imagens e vídeo. Tirar o máximo de como foi essa montagem e um pouco do aquarista.
Sem constância e dedicação, nenhuma montagem vai ser bem sucedida.
Participante | Rodrigo Lopes Paes |
Colocação | 7º colocado no CBAP 2011 |
Tamanho | 90 x 60 x 55 cm |
Volume | 297 litros |
Filtragem | 2 x Canister Jebo (1500 l/h) ligados em série |
Iluminação | 1 x HQI 150W 10.000K. |
Substrato | Mbreda Amazônia e areia |
Fauna | Trigonostigma heteromorpha. |
Flora | Glossostigma elatinoides, Staurogyne repens, Pogostemon helferi, Hemianthus micranthemoides e Rotala rotundifolia. |
Manutenção | Troca parcial de água de 50% semanalmente. Fertilização semanal com trio de fertilizantes líquidos Mbreda |
Para começar, como você entrou no Aquapaisagismo e quem é Rodrigo Paes?
– Sou médico veterinário e proprietário da loja Biótopo Brasil. O aquário está presente em minha vida desde criança e há aproximadamente quatro anos iniciei com a categoria de plantados.
Em qual data foi montado o Aquário? – 30 de Março de 2011.
Houve alguma inspiração para montar esse aquascape? – Sim, várias na verdade. Coleciono centenas de fotos dos resultados dos concursos de aquapaisagismo. Passo muito tempo analisando e selecionando essas fotos, o que sempre me influencia na hora de executar as minhas montagens.
Onde conseguiu os materiais para a montagem? – O hardscape utilizado nessa montagem é composto por cerca de 40 a 50kg de rochas. Adquiri-as através de uma compra de rochas que fiz para minha loja, onde, na ocasião, separei uns 100kg e fui brincando com esse material por uns 20 dias, até selecionar as rochas que melhor se encaixavam na montagem.
Comparando a montagem de 2009 com a de 2011, que lição você aprendeu? – Ouvi mais as opiniões dos amigos e, principalmente, não ter medo de mudar completamente um aquário, se for necessário. Na montagem de 2009, tive medo e não corrigi uma pedra que estava mal colocada na frente do aquário . Achei que não ia conseguir corrigir sem destruir o aquário por completo. Hoje, se eu tiver uma ideia nova para um layout que já esta feito, só não executo, se não tiver tempo suficiente para deixar pronto.
Atualmente essa montagem nova, está completamente diferente da foto do concurso. Adicionei uma faixa de areia branca, tirei o carpete de glossos e plantei cuba, adicionei algumas plantas vermelhas…. Só não fiz antes por conta do prazo para enviar as fotos para o concurso. Agora que não preciso me prender a nenhuma data, sinto-me muito mais tranquilo para fazer uma segunda foto.
Como você conseguiu esse resultado nas plantas? As Pogostemons helferi estão explodindo de saúde, se colocar azeite vira salada! rsrsrs. O sucesso de um plantado depende muito do planejamento. Todos os pontos cruciais (filtragem, luz, fertilizantes, CO2, etc) devem ser estudados para cada montagem e isso gera uma variação imensa. Cabe ao aquarista, ou à loja que o atende, fazer o projeto certo para a sua montagem. Neste planejamento eu também incluo a manutenção que o aquário vai certamente exigir. Sem constância e dedicação, nenhuma montagem vai ser bem sucedida. Não se pode deixar de lado a necessidade de utilizar produtos de boa qualidade: é uma regra básica. Acho que esse resultado que tivemos vem da união desses pontos: planejamento, uso de bons produtos, dedicação e constância.
Com relação às Helferis, foi uma grande surpresa para nós. Nunca utilizei essa planta, justamente por todo mundo comentar que era difícil e exigente. Ao contrário, até agora, foi só alegria, tanto na loja quanto em outras montagens. Outra espécie que adorei foi a Staurogyne: meu atual xodó!!!
Para organizar e distribuir as plantas e pedras, utilizou alguma técnica específica? – Existem os conceitos básicos de aquapaisagismo que devem ser seguidos em qualquer montagem. Explorar os pontos áureos, definições da pedra primária, das secundárias, terciárias… Harmonização do layout, profundidade, composição, naturalidade… Isso tudo tem que estar presente na mente que quem vai fazer uma montagem. Algumas pedras tiveram que ficar parcialmente enterradas porque eram muito grandes, outras exigiram bastante areia embaixo para elevar até a altura desejada. Se houve alguma particularidade, eu diria que foi a quantidade de areia que usamos, aproximadamente 100kg. Eu queria fazer um grande relevo para chamar a atenção das pessoas que frequentam a loja. Como resultado, o fundo do aquário ficou com quase metade de sua altura preenchido por areia.
Com relação às plantas, fiz muitas substituições, o que geralmente acontece comigo. No decorrer da evolução, vamos percebendo que certas espécies não ficam corretas na posição inicial ou simplesmente não deveriam estar presentes.
No projeto geral você teve uma preparação adiantada de como seria a montagem? – Sim, antes de montar, deixamos o aquário seco, apenas com a areia e as pedras por uns 20 ou 30 dias. Toda vez que eu tinha uma folguinha no trabalho, ia lá alterar alguma coisa. Quando finalmente não tinha mais o que alterar, pelo menos em minha opinião e com as rochas disponíveis, foi então que montamos.
Muitos aquapaisagistas batizam seus aquários, você o batizou com algum nome? – Não me veio nenhum nome para o aquário até hoje. Quando ele estava apenas com as pedras e ainda estávamos definindo o layout, eu sempre me pegava olhando para aquela paisagem e lembrando de um filme, que inclusive é um dos meus favoritos: Conan – O Barbaro (1982). Não sei se foi por conta da cor das pedras, da areia… mas na minha imaginação, aquilo era uma paisagem da era Hiboriana. Tanto é, que no vídeo da montagem eu usei a trilha sonora do Conan: ficou impossível pra mim não usar (risos).
Abra o móvel do aquário e me fale qual o segredo para essa água cristalina. – Usamos dois canisters ligados em série, três litros de Siporax, trocamos 50% da água semanalmente, nunca deixamos o filtro ficar muito sujo, poucos peixes comendo sempre uma excelente ração e sem sobras… Mas na verdade, o segredo não está só dentro do móvel, já que nesse aquário usei vidros de altíssima transparência. Esse tipo de vidro me deixou louco quando eu fui à Aquabase e observei que nos aquários era utilizado esse material. Depois disso, eu coloquei na minha cabeça que só montaria outro aquário pra mim se tivesse esse vidro.
Como foi a rotina desse aquário em relação aos fertilizantes, TPAs, podas, fotoperíodo e outros detalhes? – Fertilizantes, só comecei a usar após três meses de montado (trio de fertilizantes da Mbreda), sempre iniciando com metade da dose e ajustando aos poucos. No último mês antes das fotos, por ser um aquário densamente plantado, eu já estava utilizando doses diárias cavalares. O fotoperíodo inicial era de 7 horas por dia, após 25 dias de montado, já estava regulado para 10 horas por dia. As TPAs, no início, foram de 50%, duas vezes semana. Depois de aproximadamente 40 dias, reduzimos para 50%, uma vez por semana, assim permanecendo até os dias atuais.
Você teve algum problema nesse aquário? Como conseguiu combater? – No inicio da montagem tive problemas com água, que ficava turva. As pedras e os vidros ficavam cobertos por uma película transparente e opaca. Combati aspirando-as nas TPAs, escovando as pedras e limpando os vidros. Também tive cianobactérias nas primeiras semanas, mas tudo isso foi diminuindo à medida que o aquário foi maturando. Com 25/30 dias de montado, tudo chegou ao equilíbrio e nunca mais tive problema em relação a sua estabilidade.
No decorrer da evolução você mudou alguma parte no hardscape ou na posição das plantas?– Do hardscape, não. Só troquei as plantas por outras espécies no decorrer da montagem.
Como foi tirada a fotografia?– Tentei tirar com a minha Fuji H100, mas não fiquei satisfeito com o seu equilíbrio de cores. Fiz um teste com a Canon Rebel T2i, mas também insatisfeito com o resultado, pelos mesmos motivos. Apenas quando passei a testar câmeras da marca Nikon, tive bons resultados com as cores. Não que seja um problema das outras marcas, mas, como fotografo amador, sempre gostei muito das cores captadas pelas Nikons, desde a clássica D200.
Fiz a foto com uma Nikon D90, com a lente do kit em f/5.6, 1/125 e ISO 800. Gostaria de ter diminuído o ISO e ter usado uma abertura menor, já que tive um pouco de desfoque na parte do carpete e perdi um pouco de detalhes por conta do ISO alto. Para minha surpresa e desgraça, no dia seguinte, notei que justamente na melhor foto tinha um pontinho de flare exatamente no corpo de uma das Rasboras. Portanto, alem de limpar o vidro direitinho, conferir se a lente está sem nenhuma mancha, apagar todas as luzes do ambiente, usar roupa preta, tripé… sugiro que usem também um pára sol!
Você acha que errou em algo nessa montagem, o que? – Claro, o aquário está cheio de falhas, principalmente nas podas. Errei o ponto de foto do aquário. As Staurogynes e as Helferis estão encobrindo uma boa parte das rochas, não deixando o trabalho de harscape evidente. As Rotundifolias estão sem forma nem densidade e não ficaram no tamanho adequado.
Eu, infelizmente, tive muita dificuldade em sincronizar o momento certo das plantas: cada uma cresce ao seu tempo e isso me deixou louco. Nunca conseguia pegar todas as plantas em um bom momento. Sempre tinha uma ou outra que não estava bem, enquanto as demais estavam no ponto certo para serem fotografadas. Enfim, agora já consegui adquirir mais experiência em relação ao time do aquário para a foto.
O que achou dos comentários dos juízes do CBAP, algo não lhe agradou ou te deixou surpreso? – Não, de forma alguma, acho até que eles pegaram leve comigo. O aquário está lindo realmente, mas tem suas limitações e falhas. Eu reconheço todas elas!
Já está idealizando algo para o CBAP 2012 e outros concursos? – Esse mesmo aquário continua a evoluir e, como eu disse, hoje ele está completamente diferente. Por enquanto estou trabalhando nele e gostaria de fazer uma segunda foto desse aquário.
O que está faltando para os aquaristas Alagoanos começarem a entrar nessa onda de concursos de aquarismo? – Eu conheço excelentes aquários de clientes e amigos que poderiam estar competindo. Vi muita gente enviando fotos de aquários de nível igual e até inferior. Acho que falta acreditar mais no potencial que cada um já possui e não ter medo de errar ou de se expor. Nem sempre dá pra entrar com reais chances de vitória, eu tinha plena consciência de que não teria nenhuma chance de vitória, mas, mesmo assim, meu objetivo sempre foi ficar entre os 10 melhores. Acho muito válido se esforçar para apresentar uma foto de boa qualidade de um bom aquário, independente de ranking.
Para finalizar, deixe algo para aqueles que ainda acham que concurso é um bicho de sete cabeças. – Gente, montar um plantado é facílimo. Manter o aquário saudável é muito tranqüilo, uma boa parte do pessoal já faz isso sem grandes dificuldades. A maioria dos aquários plantados que conheço aqui em Maceió falta muito pouco para conseguir uma boa foto e participar de concursos. Muitas vezes são necessários apenas alguns ajustes, uma boa poda, substituir algumas plantas, corrigir a fertilização… O mais difícil ainda é encontrar um bom hardscape, feito isso, a própria paixão pelo hobby se encarrega do restante.
O AquaA3 agradece a disponibilidade e a gentileza em nós fornecer essa ótima entrevista. Que a evolução sempre esteja contigo!