Popularmente conhecido no Brasil por mini-arraia, a Balitoridae é uma família de peixes originária da Eurásia, a maioria das espécies são reofílicas.
A gama de espécies mantidas na aquariofilia não para de crescer, novos peixes são descobertos e um novo mundo se abre no horizonte dos entusiastas. Neste breve artigo iremos falar da família de peixes chamada Balitoridae, mantidos de certa forma recentemente em nossos sistemas que em pouco tempo se tornaram populares em todo o mundo.
Sobre a Balitoridae
As bótias de rio chinesas (“mini–arraia”) ou internacionalmente conhecidas por The Hillstream Loach, inicialmente foram importadas em 1999, mas só chegaram ao Brasil em pequena escala em 2005, e em grande escala em 2010. podemos concluir que são peixes recentes em nossos sistemas. As informações são mínimas ou inexistentes sobre esses animais nas lojas de especialidade e normalmente são coletados em habitat de corredeiras com alta oxigenação.
Oxigenação vs importação
Um dos primeiros obstáculos em relação a esses peixes foi no inicio de sua exportação, pois a empresa responsável pela coleta e exportação desses animais não levou em consideração a exigência muito maior em relação a oxigenação. A embalagem de transporte era similar a de outras espécies e consequentemente a quantidade de peixes por envio também. O resultado foi a morte de centenas de exemplares no inicio das exportações.
Com o tempo e com a ajuda de especialistas descobriu-se a quantidade certa de peixes para envio, a proporção de 10 exemplares por embalagem foi a medida populacional ideal. Como comparação, na mesma embalagem poderiam ser enviados cerca de 60 peixes de tamanho similar com exigência normal em relação a oxigenação, o resultado foi o aumento do valor final dos animais. Pela exigência de envio com características especiais para evitar perdas, ou seja, poucos animais por frete.
Vamos conhecer as principais espécies encontradas no mercado brasileiro, e suas exigências básicas para serem mantidas de forma plena no aquário.
Gastromyzon scitulus
Um dos mais resistentes membros da família. É a mais comum bótia de corredeira importada. A base da alimentação deve ser herbívora. Exige média a forte corrente de água. Idealmente a vazão do filtro deve ser de 8 a 20 vezes. O aquário deve ser muito bem tampado, ou possuir travas francesas. As bótias possuem o comportamento natural de deslizar para fora do aquário, este detalhe vale para todas as espécies de corredeira.
Tamanho: Até 5 cm
pH: 7~8
Temperatura: 20~23,8º
Dureza: Média
Aquário: Minimo 50 litros
Gastromyzon zebrinus
Também importado com regularidade. O zebrinus é muito fácil de manter, o aquário deve possuir pedras lisas para que o peixe possa pastar o microfilme de algas. Exige forte fluxo de água. Idealmente 8 a 20 vezes por hora passando pelos filtros.
Tamanho: Até 5 cm
pH: 7~7.5
Temperatura: 20~23,8º
Dureza: Média
Aquário: Minimo 50 litros
Beaufortia kweichowensis
Conhecida como bótia borboleta chinesa, esse belíssimo peixe foi a primeira bótia de corredeira a chegar ao Brasil em 2005, possui grande resistência e aceita prontamente qualquer ração de qualidade a base de vegetais. Exige forte corrente de água. Idealmente a vazão do filtro deve ser de 15 a 20 vezes. Excelente algueira. comerá praticamente qualquer alga filamentosa ou marrom (diatomáceas).
Tamanho: Até 8 cm
pH: 7~8
Temperatura: 20~23,8º
Dureza: Média
Aquário: Minimo 100 litros
Sewellia sp.
Chamada popularmente de Bótia pintada. É um dos maiores representantes da família, possui relativa resistência e é uma das bótias de corredeira mais territoriais. Exige forte corrente de água. Idealmente a vazão do filtro deve ser de 20 a 30 vezes. Um verdadeiro trator de algas.
Tamanho: Até 10 cm
pH: 7~7.5
Temperatura: 20~25
Dureza: Baixa
Aquário: Minimo 100 litros
Sewellia lineolata
Considerada por muitos a mais bela bótia de corredeira que podemos manter, a primeira vez que apareceram fotos desse peixe causaram grande expectativa em relação a sua importação e conseqüente venda nas lojas de especialidade. Exige forte fluxo de água, idealmente a vazão do filtro deve ser de 15 a 30 vezes. É talvez a mais impressionante devoradora de algas da família.
Tamanho: Até 6 cm
pH: 6.5~7.5
Temperatura: 20~23,8
Dureza: Média
Aquário: Minimo 80 litros
A importância da oxigenação ideal
Como sabemos as bótias de corredeira precisam de excelentes níveis de oxigênio dissolvido, por que é tão importante manter esses níveis em nossos aquários?
Segundo o pesquisador Wilson Vianna a resposta esta no nível de afinidade da hemoglobina (pigmento respiratório) pelo oxigênio. Nas guelras dos peixes, milhares de lamelas secundárias dos filamentos branquiais estão em contato com o oxigênio da água ambiente. A hemoglobina, carregada pelos milhões de diminutos capilares nas lamelas branquiais se abastece de oxigênio quando o conteúdo deste gás na água ambiente é alto o bastante, e carrega este elemento até os tecidos através do corpo, onde o nível de oxigênio está mais baixo.
Esta captação e este descarrego são automáticos, em resposta ao aumento e à diminuição da pressão relativa do oxigênio nos sítios respectivos. A hemoglobina, o pigmento respiratório que carrega o oxigênio, existe em todos os vertebrados, mas a sua estrutura é algo diferente nos diferentes grupos animais, e enquanto a parte hemo é idêntica em todos eles, a porção globina da molécula vária.
Pequenas diferenças na estrutura da porção de globina têm um efeito dramático nas propriedades fisiológicas de toda a hemoglobina. A facilidade com a qual uma variedade particular de hemoglobina capta o oxigênio é chamada de “afinidade da hemoglobina pelo oxigênio“. Assim, com uma hemoglobina de alta afinidade pelo oxigênio, um peixe pode habitar ambientes com baixos teores deste gás dissolvido; a carpa, por exemplo, pode viver em locais de águas paradas, porque possui hemoglobina de alta afinidade. Outros peixes, pelo contrário, se adaptaram a águas onde o nível de oxigênio dissolvido é alto, como rios, riachos ou córregos de correnteza, e aqui não existe a necessidade por um pigmento respiratório de alta afinidade, porque este tem pouca dificuldade em captar o gás vital, que existe em abundância no meio aquático. Assim, em águas ricas em oxigênio dissolvido, a hemoglobina de baixa afinidade é mais eficaz em levar este gás aos tecidos do corpo do peixe, do que o mesmo pigmento de alta afinidade (isto parece um paradoxo, mas é bastante lógico).
Agora esta mesma hemoglobina de baixa afinidade não funciona direito num ambiente com baixos teores de oxigênio dissolvido. Assim, esta espécie não é encontrada em águas de pouco conteúdo de O2, e é aqui que a maioria dos aquários se encaixam nesta categoria. É assim lógico supor que estes peixes possuem a adaptação fisiológica da hemoglobina de baixa afinidade, e que têm assim dificuldade em prosperar em aquários que não tenham níveis adequados de oxigênio dissolvido sendo facilmente conseguido com o uso de bombas de circulação (powerheads).
O aquário indicado para Balitoridae
Basicamente o aquário deve ter preferencialmente muitas pedras arredondadas e possuir iluminação relativamente forte para que seja encorajado o crescimento de algas sobre as pedras.
A preferencia desses peixes tende para os vegetais e que sempre se deve ter isto em mente ao alimentá-los, pois na natureza as bótias de corredeira “pastam” nas rochas do rio pelos organismos que ali se desenvolvem (aufwuchs).
O fotoperíodo poderá ser um pouco maior, cerca de 10 horas. O sistema se tornará praticamente auto suficiente em relação a alimentação, sendo necessária uma complementação uma vez por semana caso a quantidade de algas se torne muito menor.
As Bótias de corredeira ou Balitoridae são criaturas apaixonantes, devemos entender e respeitar suas necessidades. Desta forma podemos assegurar a saúde de nossos peixes e poder manter de forma plena um das mais exóticas espécies em nossos sistemas.