Conheça a história do primeiro Betta splendens no Brasil!
Por Wilson Vianna: Sentado em sua confortável cadeira de balanço, o velho e sábio professor Nin Ferreira, aos seus 87 anos, bem vividos e muitos desses dedicados a aquariofilia, fez um relato sobre o primeiro betta que chegou ao Brasil, que a seguir transcrevo:
In Memoriam de Dr. Augusto José Lisboa De Nin Ferreira – 1911 a 2000.
A primeira vez que ouvi falar do peixe de briga, o Betta splendens, foi na Chácara do Sr. Sigeiti Takase, no Alto da Boa Vista. Já faz muito tempo, acredito que foi por volta do ano de 1937 ou 1938. Com meus 25 ou 26 anos, eu era o caçula do chamado “grupo dos nove aquaristas” que se reunia naquele local nos finais de semana, para comprar peixes e bater papo. Esse mesmo grupo também realizava incursões aos rios para coleta de peixinhos. Eram eles: Rolff Broca, José Nunes, Ascânio de Faria, Fernando ribeiro Horta, Jose Pereira Coelho, Claudio Vila Nova, Hans Griem, Carlos Stegmann e eu Nin Ferreira. Acredito que fomos os pioneiros na criação de peixinhos ornamentais no estado do Rio de Janeiro e talvez no Brasil.
Naquela época, além dos peixinhos que coletávamos nos riachos e lagos, conhecíamos algumas espécies trazidas do Japão, pelo senhor Takase, entre elas o kinguio, carpa, colisa, trichogaster e o peixe paraíso. Já tínhamos acesso também aos acarás-bandeira o neon-cardinal e algumas espécies de corydoras que vinham de Manaus e Belém, oriundas da coleta nos rios.
Um dia, numa das nossas reuniões de sábado, o senhor Sigeiti Takase, falou que na sua próxima viagem ao Japão iria trazer, para o Brasil, o peixe de Briga, um peixinho que se arma tipo um galo de briga, ativa suas melhores cores, abre e fecha as nadadeiras, como um verdadeiro combatente e, se dois machos forem colocados juntos, brigam até a morte.
Bom, já do lado de fora, da casa do senhor Takase, os aquaristas estavam estupefatos com a novidade; uns acreditaram e outros não, afinal, na década de 1930, informações sobre peixes ornamentais eram praticamente nenhuma, pois no Brasil não havia literatura do gênero e também não chegavam às estrangeiras, então era difícil acreditar que existisse, realmente, o peixe “galo de Briga”, como denominou um dos mais sarcásticos colegas aquaristas. O tempo passou o Sr. Takase viajou e as viagens, naquela época, geralmente eram feitas de navios; demoravam meses e, assim, o grupo esqueceu o caso do peixe de Briga.
Alguns meses mais tarde, soubemos da volta do Sr. Takase e logo organizamos uma visita, para o próximo final de semana, para saber as novidades. Assim, naquele inesquecível sábado à tarde, tivemos “os contatos imediatos de primeiro grau” com o peixe betta, ficamos estupefatos: ali estavam eles, lindos, acondicionados em vidros individuais, se armando uns contra os outros, num espetáculo fascinante: o peixe de briga existia mesmo. Um dos colegas arriscou o apelido “rabo de galo” que permaneceu durante muito tempo. Todos adquiriram exemplares do fantástico peixinho que na ocasião apresentava-se ainda, praticamente, com a maioria das características do animal selvagem. Assim começou a trajetória do peixe betta no Brasil, concluiu o meu saudoso amigo Nin Ferreira.
Quem foi Nin Ferreira
Augusto José Lisboa de Nin Ferreira foi um dedicado aquariofilista, atuante nas décadas de 1930 a 1980. Biólogo, doutor em medicina, Pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, hoje FIOCRUZ, professor de química, e autor do livro “Glossário Aquarístico” em parceria com o professor Gastão Botelho. Publicou vários artigos na revista “Viveiros e Aquários”, na revista “O Aquarista” e na revista “Aquarismo”. Dr. Nin foi também o primeiro aquariofilista a desenvolver no Brasil um trabalho de seleção genética, criando a variedade de espada rubina, vermelha com olhos vermelho. O velho biólogo foi o pioneiro nos ensinamentos aos aquariofilistas, sobre a necessidade de acompanhamento dos parâmetros físico químicos da água, principalmente o pH, que naquela época ninguém conhecia.
Nin fez parte do chamado “grupo dos nove”, um grupo aquariofilista que surgiu no ano de 1922, a partir da primeira exposição de peixes ornamentais, realizada no Brasil e que foram os pioneiros na criação de peixes ornamentais em nosso país. Nascido em 1911, Nin era o caçula do grupo. Dr. Nin faleceu no ano de 2000, com 89 anos de idade, ainda com os seus 25 aquários densamente plantados com cryptocorynes, anubias, entre outras.
A primeira matéria sobre bettas no Brasil
O primeiro artigo sobre criação de bettas foi publicado no Brasil, em maio de 1948, sendo de autoria do Sr.Hans Griem, um Alemão radicado no Brasil, que também foi o dono da primeira loja de aquariofilia no Rio de Janeiro e provavelmente no nosso país. A matéria intitulada “BETTA SPLENDENS – PEIXE DE BRIGA”, fez parte do livro intitulado “Aquário Rio – Catálogo Geral Instrutivo”, sendo este o primeiro livro específico sobre peixes ornamentais publicado no Brasil.
Peço que observem a riqueza de detalhes para aquela época. A interessante matéria foi como uma luz no fim do túnel, para aqueles que queriam reproduzir os bettas e a partir desta publicação a criação de bettas deslanchou em nosso país.
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