Nova identidade dos Caridinas “Crystal/Bee” e “Tiger”.

Novo nome científico do Bee Shrimp , agora é Caridina logemanni

Por muito tempo, consideraram-se os camarões anões ornamentais “Bee” e “Tiger” (assim como suas incontáveis variações, Crystal Red, Golden, Shadow, Black Tiger) como sendo variedades de uma mesma espécie, identificada provisoriamente como Caridina cf. cantonensis. O “cf.” é usado em nomenclatura taxonômica para um espécime ainda não identificado de forma definitiva (vem do latim confer, a confirmar).

Em 2014, os Drs. Werner Klotz e Thomas von Rintelen publicaram na revista Zootaxa o artigo intitulado – To “bee” or not to be — on some Ornamental Shrimp from Guangdong Province, Southern China and Hong Kong SAR, with Descriptions of Three New Species. Além da repercussão no meio científico, o artigo foi bastante comentado em meios aquarísticos (fóruns, sites, blogs), pela descrição de duas novas espécies importantes para nós, aquaristas: Caridina mariae e Caridina logemanni.

Abaixo uma imagem para ter referência do que mudou

Caridina novos nomes cientificos Fonte: Novataxa

O Caridina mariae é o “Tiger Shrimp” criado há muito tempo em aquários, mas cuja espécie não havia sido identificada ainda. Os autores coletaram esta nova espécie na província Guangdong, Sul da China. O Caridina logemanni é uma nova espécie de camarão que tem o aspecto idêntico aos “Bee” selvagens tradicionalmente criados em aquários. Existem diversas outras espécies com faixas escuras e claras largas (“padrão Bee”, como o C. trifasciata, C. maculata, C. venusta e Paracaridina zjinica, inclusive com mutações vermelhas), mas a que mais se parece com o “Bee” selvagem é o C. logemanni. Foi coletado somente em três pequenos córregos montanhosos na região dos Novos Territórios, Hong Kong.

Caridina novos nomes cientificos Fonte: Novataxa

 Após o artigo, a maioria dos sites e portais dedicados a invertebrados começaram a corrigir o nome científico dos “Tigers” e “Bees” para C. mariae e C. logemanni, de forma semelhante ao que haviam feito com o “Red Cherry” (de Neocaridina denticulata sinensis para N. heteropoda, e finalmente para N. davidi). Isto é correto para o “Tiger”, mas no caso dos “Bees”, a situação é um pouco mais complexa…

Neste mesmo trabalho, foram analisados genes de DNA mitocondrial de diversos camarões criados em aquários, dos 10 camarões “Bee” de colônias criadas por aquaristas amigos dos autores, o resultado foi bastante interessante:

  • Dois camarões foram identificados morfologicamente e geneticamente como C. venusta;
  • Cinco camarões estão inseridos geneticamente no clado do C. cantonensis;
  • Um camarão foi identificado morfologicamente como C. logemanni, mas geneticamente se agrupa com os cinco acima, dentro do clado C. cantonensis;

Quanto aos dois primeiros, a interpretação é simples – Alguns camarões criados em aquários do mundo são Caridina venusta, fato já sugerido por autores chineses como Wang, Liang e Li em 2008.

O que é muito estranho, à primeira análise, são os outros seis camarões: Todos com aspecto “Bee”, um deles identificado morfologicamente como C. logemanni, mas todos os seis identificados geneticamente como C. cantonensis. O que causa mais estranheza é o fato do C. cantonensis não possuir faixas, tendo um corpo homogêneo translúcido com pequenas manchas escuras, totalmente diferente de um “Bee”.

Caridina novos nomes cientificos Ilustração mostrando hibridização e introgressão mitocondrial. No exemplo, o casal original (F0) foi de Caridina cantonensis, uma espécie sem faixas, e Caridina logemanni, uma típica espécie com faixas. Os híbridos do sexo feminino transmitem adiante o mtDNA da ancestral feminina original (C. cantonensis). Note que, após muitas gerações, como os dois híbridos da última linha (F4), o fenótipo da espécie inserida no cruzamento (C. cantonensis) se dilui, e é difícil de ser detectada. O F4 da direita é o exemplo no texto de fenótipo de C. logemanni e mtDNA de C. cantonensis. O F4 da esquerda é o exemplo no texto de fenótipo concordante com o mtDNA, mas que é híbrido. Ilustração de Walther Ishikawa.

Mas devemos lembrar que a análise genética foi feita somente com DNA mitocondrial. Não foi analisado DNA nuclear. E isto complica a análise em uma situação específica: Híbridos! O DNA mitocondrial é herdado somente da mãe, enquanto o nuclear vem do pai e da mãe. No caso de híbridos, a análise isolada do DNA mitocondrial pode levar a erros diagnósticos. A discrepância entre o DNA mitocondrial e o DNA nuclear (ou seja, o fenótipo), sugere fortemente a possibilidade de híbridos.
Também foi confirmada uma proximidade filogenética muito grande entre o C. mariae, C. cantonensis e C. logemanni. Isto explica a existência de híbridos férteis, como o próprio “Bee” de aquário, e mesmo os cruzamentos entre “Bees” e “Tigers” (Tibee).

Conclusão

Desta forma, as conclusões mais importantes deste trabalho são:

  • O Tiger, Caridina cf. cantonensis, agora é Caridina mariae;
  • Os camarões “Bee” criados nos aquários do mundo são um grupo heterogêneo, composto de mais de uma espécie. Alguns são Caridina venusta. Muitos outros são híbridos, provavelmente Caridina cantonensis x logemanni.
[box type=”success” ]Notícia enviada por Walther Ishikawa. Faça como ele e colabore conosco ou ajude aperfeiçoar esse material. Utilize o campo de comentários para tirar dúvidas e interagir sobre esse assunto. Referências: Dr. Werner Klotz, Dr. Thomas von Rintelen e o Planeta Invertebrados. Mais detalhes sobre assunto consulte o link “Identidade do Caridina “Crystal/Bee”” [/box]