O estresse nos peixes ornamentais é recorrente em diversos aquários e muitas vezes por falta de conhecimento. No artigo de Edison de Freitas (Biólogo especialista em lagos ornamentais da empresa Cubos), ele demonstra claramente algum desses fatores.

O estresse nos peixes

 

O que é estresse nos peixes?

Quando nos vem à mente a palavra estresse, logo imaginamos algo negativo, que perturba a nossa paz e nos incomoda. Isto tem fundamento, uma vez que o estresse é capaz de literalmente abalar o equilíbrio de nosso corpo. Em 1973, Hans Selye definiu o estresse como “uma resposta não específica do corpo a qualquer demanda feita sobre ele”.

Simplificando, o estresse pode ser considerado como um estado de ameaça ao equilíbrio dos organismos, a homeostase. Quando o assunto são os nossos peixes, ficamos muito preocupados, e com razão, com o bem-estar deles. O estresse nos peixes ornamentais é o grande vilão que atormenta a paz de nossos companheiros, e é diretamente influenciado por fatores externos.

bater no vidro do aquário é motivo de estresse para os peixes

Bater no vidro do aquário é motivo de estresse para os peixes.

Os estressores

Estressores, a fonte do estresse, podem ser divididos em três diferentes categorias: químicos, físicos e por percepção.

  • Os estressores químicos têm relação com os fatores da água, como a presença de algum poluente, baixo nível de oxigênio, pH, cloro, etc. Dependendo da concentração de alguma substância ou alteração de um parâmetro da água, o estresse pode ser tão grande que pode levar nossos peixes à morte em poucos minutos. Por esse motivo é importante sempre saber quais são as características ideais da água para cada espécie, proporcionando um ambiente livre de estressores químicos.
  • Estressores físicos são basicamente ocasionados durante o manejo dos animais e manutenção do lago/Aquário e são difíceis de serem evitados, embora possam ser amenizados. A captura, o confinamento, o transporte dos animais e, em aquários, bater no vidro são exemplos de fonte de estresse físico. O cuidado com o manejo dos animais durante estes momentos, muitas vezes inevitáveis, são formas de manter nossos peixes mais calmos e não elevar tanto o seu nível de estresse.
  • Estressores por percepção são geralmente causados por algum predador ou algo percebido como ameaça. Em lagos e aquários pode ser facilmente evitado, bastando manter peixes compatíveis, como somente carpas ou estas com kinguios, por exemplo. Ao adicionar um peixe predador, um Oscar (Astronotus ocellatus) por exemplo, os peixes que podem ser predados ficam em constante alerta para evitarem serem devorados. Esse estado de atenção constante gera altos níveis de estresse crônico, que é perigosamente danoso à saúde do estressado.

Sintomas

O estresse nos peixes pode causar diversas alterações no corpo de nossos peixes, desde pequenas mudanças hormonais até completas transformações no animal, como alterações no crescimento, deficiência no sistema imunológico e alterações de comportamento. Animais estressados tendem a não se alimentarem, o que pode ocasionar desnutrição e déficit de nutrientes.

Superlotação de peixes

Superlotação de peixes “jumbos” (créditos: Greatfish)

Muitas das vezes que um peixe morre sem que saibamos o motivo, o estresse é o grande culpado. O efeito do tempo também deve ser considerado. Um grande estresse momentâneo muitas vezes é menos danoso que um estresse menor que permanece por muito tempo. Isso ocorre, pois, as pequenas alterações fisiológicas que um estresse causa, podem evoluir para alterações mais severas caso o estressor não seja eliminado (fig. 1), podendo até matar.

Fatores de estresse nos peixes ornamentais

Figura 1: Estressores e efeitos do estresse em peixes. Respostas primárias podem evoluir para respostas secundárias e terciárias caso o estressor não seja eliminado (adaptado de Barton, 2002).

O que evitar

Para todo e qualquer ser vivo que você coloque dentro do aquário, é importantíssimo estudar antes de compra-lo, pois cada um tem necessidades especificas. O estudo pode evitar diversos problemas no aquário ou lago, veja algumas dicas:

  • A sua alimentação evoluiu, a dos animais também! Ofereça alimentos de qualidade superior e marcas renomadas, evite a monotonia na alimentação, ofereça rações especificais para cada tipo de peixe;
  • Antes de repor a água, use produtos que auxiliem no tratamento da água. Aceleradores de biologia e condicionadores é algo que não pode faltar nesse momento;
  • Antes de escolher o local para o seu aquário, reveja se há bastante movimento ou barulho. Busque locais arejados e tranquilos;
  • Reproduza um layout definitivo, para não ter que fazer grandes mudanças no aquário. O estresse pode vir através de modificações no aquário;
  • A compatibilidade dos peixes deve ser respeitada acima de tudo, você ficaria junto com um leão no mesmo quarto?
  • Mudanças bruscas nos parâmetros é uma das causas repentinas de mortes no aquário, tenha sempre um plano B para evitar isso. Aceleradores biologia, removedores de substâncias nocivas, cooler, termostato…
  • Aquário superlotado é um dos itens que mais vimos no Brasil, existe uma cultura nociva de superlotação que acomete diversos animais. Ter um aquário assim é andar na corda bamba, qualquer deslize pode colocar em risco todo o seu aquário, além de haver um estresse gigante entre a fauna do seu aquário, tendo reações em cadeia.
Carpas no lago

(Créditos Almrsal)

Cuidados

Assim como nós mesmo, nossos queridos companheiros também ficam estressados e podem sofrer bastante com as consequências desse mal. Controlar os parâmetros físico-químicos da água do lago ou do aquário, assim como manter um ambiente adequado, é primordial para que nossos peixes tenham uma vida longa, feliz e tranquila. Manter os peixes calmos é muito mais que proporcionar bem-estar para eles, é uma forma de relaxar e mandar para longe o estresse que afeta a nós todos, inclusive nossos amigos aquáticos.

Referências bibliográficas
Barton, B. A. 2002. Stress in fishes: A diversity of responses with particular reference to changes in circulating corticosteroids. Integ. And Comp. Biol. 42: 517-525.
Selye. H. 1973. The evolution of the stress concept. Am. Sci. 61: 692-699.