Uma nova espécie de peixe da família Rivulidae foi descoberta numa pequena área de cerca de um hectare no Pampa gaúcho, em Encruzilhada do Sul (RS). O Austrolebias bagual ainda não possui nome popular e foi oficialmente descrito em outubro deste ano na revista AQUA – International Journal of Ichthyology (Revista Internacional de Ictiologia), voltada a estudos e pesquisas de peixes. A nova espécie faz parte do grupo chamado ‘peixes anuais’, que possui ciclo de vida único: por viverem em poças temporárias, os indivíduos adultos morrem a cada vez que a seca atinge a região.
Austrolebias bagual / Crédito: Matheus Volcan
“Assim como os demais peixes anuais, os indivíduos da nova espécie se reproduzem rapidamente, depositam os ovos na terra e, quando as poças secam, ocorre uma pausa no desenvolvimento dos embriões, conhecida como diapausa. Apenas quando volta a chover e o ambiente se torna favorável, eles voltam a se desenvolver e eclodem”, explica o pesquisador e vice coordenador do Instituto Pró-Pampa (IPPampa), Matheus Volcan, responsável pela pesquisa, que teve o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza por meio do financiamento do projeto Peixes Anuais do Pampa. A descoberta foi realizada em conjunto com Luis Esteban Lanés e Ândrio Gonçalves, pesquisadores e coautores do artigo da descrição da espécie.
Segundo o pesquisador, a bacia do rio Camaquã, onde o Austrolebias bagual foi descoberto, possui grande potencial para novos registros de espécies, mas, por conta dos poucos esforços de coleta na bacia, se conhece muito pouco a biodiversidade existente. “Por isso, essa descoberta é muito importante, marcando o início de um processo de ampliação do conhecimento. Queremos definir as regiões prioritárias e propor ações de conservação para as espécies”, explica Volcan. O local de ocorrência do Austrolebias bagual não é uma unidade de conservação, o que deixa a situação ainda mais vulnerável.
Austrolebias bagual / Crédito: Matheus Volcan
Novo peixe está criticamente ameaçado
Os peixes anuais são considerados o grupo de peixes de água doce mais ameaçado de extinção no Brasil, especialmente em virtude da perda de habitats. “Quase deixamos de descobrir o novo peixe, porque as poças onde ele ocorre quase não existem mais, estando agora restritas a apenas uma”, destaca Matheus Volcan. De acordo com ele, a região sofre muita pressão antrópica principalmente por conta de plantações de arroz, soja e trigo.
O pesquisador conta que essa realidade influenciou na hora de escolher o nome científico do peixe. Segundo Volcan, o termo ‘bagual’ é usado pelos gaúchos para se referir a quem é corajoso, destemido. “Nós consideramos a capacidade da nova espécie de conseguir sobreviver nesse tipo difícil de ambiente com diversas pressões, como sendo corajosa, por isso a homenageamos dessa forma”.
Características da espécie
Com apenas cinco centímetros, o Austrolebias bagual possui um padrão de colorido único nos machos. A nadadeira dorsal possui manchas negras dispostas verticalmente e o corpo é marrom claro acinzentado, com algumas listras negras dispostas verticalmente, tendendo a desaparecer na parte traseira do corpo. As fêmeas são um pouco menores e menos coloridas.
Durante o acasalamento, o casal se enterra na lama e a fêmea deposita o ovo, sendo que o macho fecunda o ovo que começará a se desenvolver. Quando o verão chega, a região seca e todos os indivíduos morrem. O ovo só irá eclodir no período das chuvas quando a poça voltar a se formar.
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