Com a notícia que o Brasil irá mudar legislação para voltar a ser líder em peixes ornamentais, o biólogo Diego Zoccal Garcia enviou sua opinião sobre esse assunto.
Fonte da imagem: Projeto Igarapés
– A mudança na legislação brasileira pretende colocar o país na liderança da produção de peixes ornamentais e permitirá o cultivo de cerca de duas mil espécies Amazônicas e de outras bacias. Espera-se que esta nova legislação dita como “moderna” seja, pelo menos, ambientalmente responsável. Apenas na bacia Amazônica existem mais de 1.300 espécies de peixes, sendo muitas delas com capacidade ornamental. São comercializadas para o mundo todo, e devido à alta diversidade, muitas são vendidas antes mesmo de serem conhecidas pela ciência. Deste modo, nota-se a importância da participação de especialistas de peixes de água doce (sistematas, taxonomistas e ecólogos) para identificação destas espécies na fase de extrativismo para posterior cultivo das espécies permitidas na nova instrução normativa.
Além disso, deve haver controle no número de indivíduos capturados para que não haja sobre-exploração e comprometa as populações naturais, uma vez que muitas delas são endêmicas da região Amazônica, ou seja, só ocorrem naquela bacia. O mesmo vale para a exploração de outras bacias, incluindo a do rio Paraguai, no Pantanal.
Foto Diego Garcia/ Águas Brasileiras: conservação, gestão e sustentabilidade
Cerca de 90% dos exemplares comercializados por ano são provenientes de criatórios, e o Polo de Piscicultura Ornamental de Muriaé (MG) é o maior produtor do país. Nesta mesma região está situada a bacia do rio Paraíba do Sul, onde já foram registradas muitas espécies não nativas (originárias do mundo todo) provenientes de escapes de tanques de cultivo.
Tal evento nos alerta para a ausência de cuidados nestes centros de produção que são precários e os piscicultores desinformados sobre os riscos dos escapes de tais espécies. Assim, é necessária e urgente a conscientização de piscicultores, comerciantes e aquaristas, além da adequação dos centros de cultivo. Para isto os tanques devem ser construídos afastados de recursos hídricos, e com a saída de efluentes protegidos com telas e filtros. Atentando para estes fatos, o Brasil, com seu alto potencial de peixes ornamentais, poderá atingir a almejada liderança na criação de ornamentais de maneira sustentável, desde que realizada com bom senso.