Com o objetivo de atrair e estimular aquapaisagistas iniciantes, o concurso CBAP 2017 abre a categoria amador.

As inscrições do Concurso Brasileiro de Aquapaisagismo (CBAP 2017) começam hoje, 10 de julho. Mas o regulamento da edição 2017 trouxe uma surpresa inusitada. Com o objetivo de atrair e estimular aquapaisagistas iniciantes, o concurso que tinha apenas duas categorias para os brasileiros, (1) Plantado e (2) Nano, foi subdivido em quatro: (1) Plantado, (2) [Amador] Plantado, (3) Nano e (4) [Amador] Nano.

Entra como amador aquele que participa “pela primeira vez do CBAP ou que não possua participações anteriores (de 2012 a 2016) classificadas entre as 10 melhores da categoria…”. A cada ano, os três primeiros amadores sobem e passam a disputar como profissionais da categoria amadora disputada.

Foto grupo CBAP 2016

Mas essa mudança levanta algumas questões.

A história ensina

O problema com essa espécie de divisão de acesso, é que ela ignora a própria história do concurso. Se tomarmos a categoria Nano por referência, veremos que, nos últimos dez anos de CBAP, sobem para o TOP10 diversos aquapaisagistas sem qualquer histórico de boas colocações ou mesmo participações em edições anteriores.

Rodrigo Dutra 4° CBAP NANO em 2014

Rodrigo Dutra 4° CBAP NANO em 2014

Às vezes saindo do nada para o primeiro lugar direto:

2007Americo Guazzelli
Fabian Kussakawa
2008Gabriel Massoto Gonçalves
Cleber Sá
2009Miron Araújo
2010Renato Kuroki
Adriano Montoro Nicácio
2011Jean Ricardo Olinik
2012Paulo Cesar Ferreira
2013Leonardo Artioli
Paulo Pacheco
2014Carlos Souza
Thiago Eloi
Gregory Thom
2015Rodrigo Dutra
2016Rodolfo Provenzano

Nem um só desses nomes havia antes ficado no top10 em edições anteriores do concurso. E essa não é uma lista exaustiva, mas exemplificativa, e que considera apenas uma das categorias do concurso. Os exemplos poderiam ser multiplicados aqui. A nova regra castra completamente essa possibilidade de ascensão meteórica, desnecessariamente forçando o sujeito a competir por dois anos pela possibilidade de fazer parte do TOP10 profissional.

Só os TOPs

Limitando a disputa profissional aos melhores, a nova regra enfraquece a categoria profissional em números e em seu dinamismo ou potencial de renovação.
Este ano, menos de 50 pessoas vão poder participar de cada uma das categorias profissionais do CBAP, nano e plantado. O número é menor se você considera que, obviamente, há vários nomes que tiveram o mérito de reaparecer no TOP10 nos últimos 5 anos.

Mas não só o número de participantes fica fragmentado, como também a capacidade de renovação rápida da categoria profissional, que não terá novatos surpreendendo e garantindo espaço junto a nomes consagrados. O dinamismo que se esperava, e que se vê em outros concursos aí fora, é comprometido.

Limitação ineficaz

A nova regra aumenta a possibilidade de vermos aquários muito bons ficando subclassificados, uma vez que um bom aquário, com chances reais de bons resultados na categoria de nível profissional, teria de se limitar a concorrer em uma divisão de acesso.
Isso pode até fazer sentido no futebol, de onde esta ideia de acesso ou séries parece ter vindo. Mas no aquapaisagismo não estamos tratando de campanhas de clubes, e sim de obras únicas e irrepetíveis, que precisam de uma avaliação adequada.

Leandro Artioli 1º colocado NANO no CBAP de 2013

Leandro Artioli 1º colocado NANO no CBAP de 2013

 

Veja novamente o exemplo de Leandro Artioli, em 2013. Ele foi campeão da Nano, direto, sem ter sido TOP10 antes, e 3º lugar na categoria Plantado. Se a regra atual já estivesse vigorando, ele seria, no máximo, o campeão da categoria Nano amador, e teria uma boa colocação na Plantado amador, mas com um aquário que seria melhor, na avaliação dos juízes, do que TODOS os outros inscritos na categoria Nano profissional, como de fato ocorreu, e outro que era o 3º na Plantado profissional! Seria uma limitação desnecessária… e injusta.

Profissional, mas amador

Outro problema da nova regra é que, nela, você pode ser profissional e amador ao mesmo tempo. Isso porque o acesso a uma determinada categoria depende do seu histórico de atuação naquela mesma categoria ou categoria de acesso relacionada. Explico: Para ter chance de ser top10 na categoria Nano, não interessa o que você já conquistou na categoria Plantado! Mas, sim, o que você já fez na nano ou o que fará como nano amador.

Luca Galarraga - Apnea (18º Lugar no IAPLC 2012 e 1º Lugar no CBAP 2012)

Luca Galarraga – Apnea (18º Lugar no IAPLC 2012 e 1º Lugar no CBAP 2012)

Se, por exemplo, Luca Galarraga, que é o maior campeão do CBAP de todos os tempos, quisesse participar da categoria Nano, ele teria de se inscrever como “amador” durante um ano, para no ano seguinte tentar uma colocação na nano profissional, pois seu histórico de vitórias no concurso se deu na categoria Plantado, destinada a aquários com mais de 60 litros. Agora, pergunto: seria justo para os amadores ter um aquapaisagistas com o know-how do Luca disputando posição com eles? E por mais humilde que o Luca seja, não seria isso constrangedor, visto seu histórico na disputa, fazê-lo disputar uma categoria de acesso e esperar um ano até chegar à divisão principal dessa categoria?

Difícil retorno

Fica ainda mais difícil o retorno ou participação de nomes já consagrados. Já imaginaram o Rony Suzuki, o maior mestre de aquapaisagismo do Brasil, preparando um aquário e tendo de se inscrever no CBAP como amador? Ou o veterano Americo Guazelli, campeão da nano em 2007 — direto, sem nunca antes ter sido TOP10 — voltar agora como amador?

Americo Guazelli

Essa nova regra cria uma situação de certo modo complicada e reproduz uma classificação problemática; como se após cinco anos os méritos do sujeito tivessem expirado. Além de, na prática, ser injusto para os amadores que, num caso desses, teriam de enfrentar uma concorrência pesadíssima numa categoria que se esperaria que fosse mais light.

Aumento da disparidade externa

A nova regra também aumenta a disparidade entre a avaliação dos demais concursos, nacionais e internacionais, em relação ao modo como o CBAP classifica os trabalhos que recebe. Aumentam as chances de que um aquário muito bem classificado lá fora figure apenas na categoria de acesso no maior concurso do país — e não por culpa dos juízes, mas dos novos critérios de classificação, que exigem um histórico de boas realizações no concurso, ao invés de julgarem a obra em si.

Muito em cima da hora

Para piorar a situação, além das mudanças, o concurso foi divulgado tardiamente. O CBAP é praticamente o último concurso a divulgar inscrições este ano, com menos de um mês e meio de prazo para inscrição. Aqueles que miram os concursos internacionais, precisam de boas fotos do tanque já em maio, para o IAPLC. Mas para os iniciantes no hobby e amadores, isso é um problema.

31/05The International Aquatic Plants Layout Contest (IAPLC)
30/06Ista International AquascapingContest (IIAC)
20/08Concurso Brasileiro de Aquapaisagismo (CBAP)
31/08Concurso Paulista de Aquapaisagismo (CPAQ)
31/08Reeflowes Aquascaping
17/09Aqua Gardeners Association (AGA)
30/09Biotope Aquarium Design Contest (BADC)
09/10Hardscape Challenge
S/DConcurso Paranaense de Aquapaisagismo (CPA)

Já estamos em julho, o que significa que passamos todo um semestre sem data, nem do concurso, nem do evento de premiação – este, requer ainda mais antecedência para quem deseja participar, especialmente quem não mora em São Paulo.

Solução Simples

Mudar não é o problema, desde que a mudança seja para melhor. Mudar por mudar, ou mudar apenas para ser diferente é que não faz sentido, especialmente quando sua história é a referência e a tradição. Lembram de quando o IAPLC reafirmou suas diretrizes para fortalecer o Nature Aquarium e tentar trazer o hobby ao que era, ao que considera ser sua essência? Essa é uma mudança que vale a pena.

O CBAP é um dos concursos de aquapaisagismo mais tradicionais do mundo, o maior da América Latina. Ele existe desde 2003 e basicamente com o mesmo formato. É um marco no aquapaisagismo brasileiro, e deve continuar sendo. Queremos parabenizar aqueles que trabalham para que uma nova edição seja realizada a cada ano e pela atenção para com os aquapaisagistas iniciantes, pois são eles que vão dar sequência ao hobby.

Mas estes devem ser acolhidos e apoiados ao ponto de evoluírem a passos largos e sem barreiras. Não tolhidos e enquadrados em subcategorias. Suas obras é que devem ser julgadas e apreciadas e não seu histórico de participações no concurso.

Se a ideia é dividir por categorias, gostaríamos de propor uma solução simples:

O concurso deve ser aberto para que quem deseje se inscrever entre os profissionais, se inscreva. Os profissionais é que não podem disputar com os amadores, mas nunca o contrário. Se alguém nunca foi TOP10, mas julga ter um bom aquário, com chances de disputa entre os profissionais, há vários exemplos que mostram que ele pode estar no caminho certo. E deve ter a chance de disputar como bem entender. Da mesma forma, quem está começando e sente-se melhor entre os iniciantes, terá garantias de uma competição mais equilibrada.

E você o que acha? A sua opinião é importante para o engradecimento do hobby!

Esse conteúdo é de autoria dos aquapaisagistas: Andy Andrade, Carlos Souza, Cleber Sá, Gregory Thom, Fernando Moraes, Lafaiete Reis, Márcio Santana, Rodolfo Provenzano e Thiago Eloi.

[box type=”note” align=”” class=”” width=””]O conteúdo da coluna opinião é de inteira responsabilidade do(s) seu(s) autor(es), sendo assim não reflete o pensamento do site AquaA3.[/box]