Sempre que surge o tema da propagação do mosquito Aedes aegypti, coloca-se a questão de não deixar acumular água, seria a solução?
Essa seria a “solução” para que as fêmeas do mosquito Aedes aegypti não façam a desova e não surjam larvas que irão continuar o ciclo reprodutivo. No entanto, as fêmeas estão soltas, voando por aí, irão procurar frestas de caixas mal tampadas, poças em terrenos não muito vigiados, piscinas abandonadas em casas fechadas, calhas sem manutenção. Resumindo, a sua natureza, por seu instinto de sobrevivência enquanto espécie, fará com que as espécimes tentem, e muitas de fato consigam, reproduzir-se.
Um aspecto que é sonegado do debate é a arquitetura das cidades, ou melhor, o planejamento (talvez, a falta dele) do crescimento urbano. O mosquito Aedes aegypti convive com o ser humano em centros urbanos há muito tempo, em várias partes do mundo.
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Por que o mosquito Aedes aegypti tem se tornado cada vez um problema maior?
No Brasil mesmo, no início do século passado, houve surtos sérios de febre amarela e malária. Por que diminuíram? Sanitaristas, infectologistas e biólogos fizeram um intenso trabalho de distribuição de espécies do gênero Poecilia por todo o território nacional, soltando-os em charcos, cursos d’água, lagos, lagoas, no entorno e mesmo dentro das cidades, nos cinturões verdes, nas praças em que havia tanques etc. [1]
São os populares barrigudinhos, guarus, lebistes, bandeirinhas, Guppies, originários naturalmente da América Central e norte da América do Sul, que foram disseminados por todo lado no Brasil, a partir da década de 30 do século passado, no combate ao mosquito. Não foram os únicos, outras espécies de Poecilia também o foram, e mesmo espécies locais também contribuíam com esse combate, essa guerra biológica.
Com efeito, haviam espaços em que os predadores do mosquito podiam fazer, naturalmente, sua missão: controlar a propagação do mesmo, alimentando-se, vorazmente, das suas larvas.
Há duas, três décadas, ainda existiam por aí cursos d’água com peixinhos, praças com laguinhos com seres vivos neles existindo e combatendo os mosquitos.
Lembro-me, quando garoto, de passear de bicicleta pelos cinturões verdes e ver plantações de verduras e riachos, lagos, que os agricultores locais usavam para regar as plantas e lavá-las, onde estavam ali os peixes. Não se ouvia falar em dengue. Febre amarela era coisa de mata distante, da floresta, uma lembrança longínqua dos tempos dos nossos bisavós.
Mas, as cidades foram crescendo, onde antes havia um riacho, um laguinho, um curso natural d’água, tudo foi aterrado, construíram-se condomínios, cimentaram, asfaltaram, secaram, acabaram com os peixes, com os microcrustáceos (pesquisem sobre eles, e como os usam no Oriente e na Austrália para erradicar o Aedes), os sapinhos, os girinos, todos eles inimigos naturais do mosquito, seus combatentes naturais. Quebrando o ciclo natural das coisas, tornaram esse mosquito uma espécie sem predadores, fora do ciclo natural.
Outro detalhe, a questão da falta de tratamento de esgoto dizimou a maioria desses córregos com peixes, que existiam nas regiões. E o que não foi aterrado, foi canalizado e aqui ainda existem alguns ou por estarem em área preservada ou estão em propriedades privadas.
Solução de controle do mosquito Aedes aegypti
Os vírus da dengue, febre amarela, Zika Vírus e chikungunya estão aí, para mostrar o que isso significa. Penso que não haverá solução enquanto não se reequilibrar a ordem natural, revitalizando-se áreas verdes, reconstruindo e reflorestando espaços ecológicos nos entornos das cidades, garantindo-se também nas áreas urbanas que o Aedes aegypti encontre seus predadores naturais, para que se possa reequilibrar a ordem natural da cadeia alimentar e as larvas do mosquito sejam, novamente, controladas. Parece-me, cada vez mais, que garantir áreas verdes, proteção de mananciais, existência das espécies, é antes de uma pauta ecológica, uma necessidade de saúde pública!
Curiosidade
No Brasil, os primeiros relatos de dengue datam do final do século XIX, em Curitiba (PR), e do início do século XX, em Niterói (RJ). No início do século XX, o mosquito já era um problema, mas não por conta da dengue — na época, a principal preocupação era a transmissão da febre amarela.
Em 1955, o Brasil erradicou o Aedes aegypti como resultado de medidas para controle da febre amarela. No final da década de 1960, o relaxamento das medidas adotadas levou à reintrodução do vetor em território nacional. Hoje, o mosquito é encontrado em todos os Estados brasileiros. [2]
Opinião enviada pelo o aquarista Sérgio Urbaneja, desde 1983 hobbista e sua maior paixão são lebistes “selvagens”.
Referências
- Notadamente a equipe sob comando do médico Abelardo Marinho, no Departamento Nacional de Saúde Pública e, depois, no Serviço Nacional de Educação Sanitária do Ministério da Saúde.
- Fiocruz, “O mosquito Aedes aegypti faz parte da história e vem se espalhando pelo mundo desde o período das colonizações“